Há pouco estava lendo no blog Fós Grafê, uma postagem intitulada "Fotógrafos não gostam de fotografias". A afirmação é do filósofo tcheco, naturalizado brasileiro, Vilém Flusser, autor do livro "Filosofia da Caixa Preta". Ainda não li o livro e por isso, qualquer observação aqui será superficial, baseada na postagem citada e nas minhas próprias experiências e observações.
Em um primeiro momento, essa frase pode parecer perturbadora a qualquer entusiasta da fotografia e rapidamente negada por alguns. Mas pensando com calma e avaliando melhor o que o autor quis dizer, é possível perceber que ela tem sentido e justifica-se em vários eventos que podem ser percebidos na prática.
Eliane Terraca, editora do blog (Fós Grafê) fez uma pequena enquete através do Facebook e, até o momento da postagem, 100% das pessoas disseram preferir sair para fotografar a ver as fotos prontas. A partir dessa informação, chegou a confirmação de que os fotógrafos querem sempre o melhoramento do seu equipamento, buscando tutorias, livros e outros materiais de aproveitar melhor o equipamento.
"Fotografias são realizações de algumas potencialidades inscritas no aparelho que fotografa, isto faz o fotógrafo querer sempre descobrir novas potencialidades, concentrando todo seu interesse no aparelho."
Essa teoria pode justificar o fato de muitos fotógrafos - principalmente os iniciantes - terem uma preocupação excessiva com a qualidade dos equipamentos.
Não é raro, quando um fotógrafo mostra uma foto a outro, ouvir a seguinte frase: "que foto linda, que equipamento você usou?"
Situação como essa inclusive, me é clara na memória durante a palestra "A magia da luz", do fotógrafo Drausio Tuzzollo, que fez parte do congresso Nu Photo Conference, realizado no ano passado em São Paulo. Logo após o fotógrafo discursar e enfatizar a importância da iluminação perante outros conhecimentos técnicos, uma moça da plateia apressou-se em perguntar: "qual câmera você usa?"
Mas embora a grande maioria esteja realmente presa ao equipamento - até mesmo porque, sem ele, não existe fotografia - a teoria de Fussler não é uma verdade absoluta. E não tem pretenção de ser, uma vez que o livro se trata de diferentes "ensaios para futura filosofia da fotografia". Entendo que ela funciona como uma condição primaria ao fotógrafo. Ou seja, o fotógrafo inicia sua prática com esse vínculo muito próximo ao equipamento e deve ao longo se seu aprendizado, desprender-se disso.
É preciso entender que a necessidade (seja ela real ou criada) de investir tempo e dinheiro no equipamento, priva o fotógrafo de se dedicar a outras questões que podem ser mais relevantes em uma fotografia. O que eu quero dizer é que aquela pessoa que está sempre preocupada demais com a próxima foto, que dispara com presa o obturador, sem se preocupar em olhar com calma e avaliar os resultados de seu trabalho ou mesmo o trabalho de outros, treinando o olhar, o senso crítico e uma auto reflexão sobre o signo comunicativo do seu trabalho, está fadada a repetir sistematicamente as mesmas fotografias, erros e acertos, sem compreender os verdadeiros porquês disso.
Essa questão é descrita em parte por Ivan de Almeidana, no texto "Desenvolvimento (tratamento) e Interpretação da Imagem Fotográfica", postado no excelente blog Fotografia em Palavras. É possível perceber que uma grande maioria ignora essa apuração do olhar, a percepção da imagem ou sua forma de leitura, concentrando-se em seus equipamentos, deixando nas mão da sorte ou de uma pós-produção milagrosa, uma possível criação que se destaque.
Há quem diga que pra ser um bom fotógrafo você precisa estudar artes ao invés de todos os equipamentos. A vida, o dia-a-dia, ler, estudar sobre fotografia, viajar... Bagagem cultural!
ResponderExcluirNão adianta ter megas equipamentos sem saber como usar. É como ter uma Ferrari e não saber dirigir.
Exatamente Yan. Tem gente que mesmo sem conseguir tirar o máximo do seu equipamento, fica preocupado em comprar um ainda melhor. Mas isso não vai melhorar em nada o resultado final.
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